segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Calabotes & Companhia...

Todos os portistas das gerações pós 25 de Abril de 1974, já ouviram ou leram, histórias de papões criminosos, como as do lendário Inocêncio Calabote. Recordo-me, como se fosse hoje, dessas histórias, que nos eram contadas (nos tempos de menino), às horas das refeições, quando nos íamos deitar ou quanndo nos portávamos mal. Nas refeições, os nossos progenitores, ameaçavam, chantageavam e troturavam-nos de forma Guantanamesca : “ou comes, ou vou chamar o Calabote para arbitrar jogos do FCPORTO…”, “se não te portares bem, não recebes no Natal ,o Boneco Exorcista do Pintolakis Coustanis", etc. E na nossa Santa Inocência, lá comíamos e fazíamos as vontades (quase todas) dos nossos progenitores. Devo dizer, que a minha infância e adolescência, foram bastante traumáticas e marcadas pelo fantasma horrível do Calabote. Foram demasiadas noites sem dormir, cheias de pesadelos e sonhos horríveis, em que o principal protagonista era sistematicamente o mesmo: o horribilis diabolus Inocêncio Calabote. Acordava quase sempre estremunhado, e a pronunciar o nome de Pintolakis Coustanis, o nosso herói salvador e exorcista destes demónios do regime bermelho. Só o Pintolakis Coustanis, nos poderia salvar do mundo obscuro dos satanases mais criminosos, pecaminosos, maldosos, endiabrados, maléficos , prejudiciais e nocivos para a saúde de qualquer tripeiro que se preze.
O Grande Pintolakis Coustanis, ia amenizando este medo constante dos Diabos Bermelhos, através das magníficas vitórias campais do FCPORTO. Só que o nosso Exorcista-Mor, não conseguiu exterminar todos os males da obediente organização demoníaca, que Salazar pôs à disposição das agremiações Pardalinhos Mouriscanos e Sportingue.
Passados tantos anos, o Calabote está mais presente que nunca! Não bastou, ter que comer espinafres , ingerir óleo de fígado de bacalhau, beber xaropes de cebola ou ouvir aquelas histórias arrepiantes (que aterrorizavam e nos acagaçavam para o resto do dia...), para afugentar de vez o demónio do Calabote. O tinhoso do belzebu decidiu encarnar noutros diabões o seu espírito gatunesco. Hoje, tenho pesadelos com Calabotes como o Pedro Pardalença, o Oligário Malquerença, o Lixo Batista, o Mourão Paixão, o Elmano Diabinho, o Soldadinho Henriques, o Gosmento Machado, etc .
Por todas estas razões (de memórias e traumas Calabotesianos) , decidi divulgar a Carta que o Sr. Adriano Lima enviou ao Dr. Rui Moreira, para esclarecer as verdadeiras histórias dos Calabotes & Companhias. Censura nenhuma, vai-me proibir de postar a carta do Sr. Adriano Lima!
Adriano Correia de Lima
Porto, 14 de Novembro de 2008

Exmº. Senhor DR. RUI MOREIRA- Programa «Trio D´Ataque» da RTPN

Senhor Doutor Rui Moreira:
"Já que o Senhor ANTÓNIO PEDRO VASCONCELOS o convidou para num jantar «resolverem e esclarecerem de uma vez por todas» (como diz) a «QUESTÃO CALABOTE», prometendo ele, inclusive, ir devidamente «documentado» para o «convencer», a si, Doutor Rui Moreira, e talvez, que afinal, o homem tenha sido um «santinho». Daí, e como qualquer portista (nós, sócio nº 3.237, desde 01.10.1964) que passou os longos e dramáticos «19 anos de jejum» (que não só por «impedimento alheio», reconheça-se), tomamos a liberdade de lhe proporcionar que, também, o Doutor Rui Moreira vá devidamente «documentado» para o jantar, enviando-lhe alguma «documentação» insuspeita, como verá. Entretanto, nesse mesmo jantar, sugiro que lhes seja servido como «aperitivos», especialmente ao Senhor António Pedro Vasconcelos, os «pratos»:
• «REINALDO SILVA», e
• «PORFÍRIO SILVA»
.Estamos a referir nomes de… árbitros, naturalmente, e que, especialmente o Senhor António Pedro Vasconcelos, se deve recordar bem, senão vejamos:
• REINALDO SILVA (ÁRBITRO DE LEIRIA):
Foi irradiado depois de autêntico «roubo de igreja», ao prejudicar o FC Porto, num célebre jogo com o… Benfica (quem poderia ser ?), no Estádio das Antas, e na época de 1962/63, concretamente em 24.02.1963.O FC Porto da época, superiormente orientado pelo húngaro Jorge Ourth (que faleceria poucas semanas depois), disputava o título «ombro a ombro» com o Benfica, até que veio esse jogo com carácter… decisivo. O Benfica faz 1-0 por Simões, o FC Porto empata por Azumir, até que, veio o lance que, nem chegou a ser polémico, já que, numa pacífica disputa de bola, a cerca de um/dois metros fora da grande área, o Torres em disputa com o correctíssimo Miguel Arcanjo, cai e o senhor árbitro, para espanto de toda a gente, marca penáltie contra o FC Porto (convertido por … Eusébio).E, assim, o Benfica ganharia por 2-1, passando a liderar o campeonato, que o… «conquistaria». Ao tempo, geria o FC Porto, o Senhor Nascimento Cordeiro que, ao saber da oferta de um automóvel a este senhor «árbitro», pelo Senhor Vieira de Brito (Presidente do Benfica), accionou os mecanismos, e as consequências foram a sua… irradiação.Sabemos o que dizemos porque, na altura, trabalhávamos para um dos Vice-Presidentes do FC Porto, o Advogado Doutor Raul Castro (falecido há 4 anos) que tinha o cargo da área jurídica do Clube. Talvez, nessa época, o Senhor António Pedro Vasconcelos estivesse ausente do país, a estudar outros… «filmes» (de ficção). Mas este, foi uma realidade. Não possuímos «documentação» (recortes) da altura, mas temos bem presente na memória, e, sabe-se, que foi a segunda irradiação de um árbitro no nosso futebol… a deste senhor. E por este motivo.
• PORFIRIO SILVA (ÁRBITRO DE AVEIRO):
Aquando da segunda época do Pedroto no FC Porto (na primeira vez que orientou a sua equipa), em 1967/68, estava, de novo, o FC Porto, «ombro a ombro» com o Benfica, para a conquista do campeonato. E eis que, também aqui, surge o jogo decisivo, agora na Luz (07.01.1968) que se saldou com um novo «roubo de igreja». O Benfica faz 2-0 com golos de Eusébio (penaltie duvidoso, logo no início do jogo, por pretensa mão de Rolando) e Torres. O FC Porto empata (golos de Valdir), e, faz um 3º golo, por Manuel António (limpíssimo, com o peito, encima da linha de golo – fotocópia do respectivo recorte do «Norte Desportivo») que o senhor «arbitro» invalida de forma incompreensível. Logo de seguida, Torres faz o 3º golo do Benfica, que vence o jogo por 3-2, e, praticamente o… campeonato.
Mas, antes de voltar ao «CALABOTE», e já agora, sobre a questão do • «BENFICA E O REGIME»:
Pergunte (ou lembre), por favor, o Senhor Doutor Rui Moreira, ao Senhor António Pedro Vasconcelos, «SÓ» isto:
- Quem impediu que EUSÉBIO saísse para Itália, já em 1963, e para o Inter de Milão? Exactamente… o senhor salazar (com minúsculas, pois claro). E fica mais esta pergunta pertinente: A tal suceder, seria líquido que a hegemonia do Benfica se prolongasse no decorrer dos anos 60 e 70, da forma como sucedeu? Já agora, num aparte, uma (verdadeira) estória sobre… EUSÉBIO: Sabia o Senhor Doutor Rui Moreira (e os seus companheiros de painel) que o primitivo destino de Eusébio para (na altura) a Metrópole, era o… FC Porto? Ele mesmo, Eusébio, o confessou à Doutora Judite de Sousa em recente «grande entrevista», na RTP. Nós sabemo-lo há muitos anos, exactamente pelo tal ex-dirigente da altura, o Doutor Raul Castro, que contava ter sido recusada tal «aquisição», pelo «entendimento cordial» que existia entre o Senhor Nascimento Cordeiro, Presidente do FC Porto, e o Senhor Vieira de Brito, Presidente do Benfica. Só mais tarde sucederia aquela «disputa» entre Benfica e Sporting pela «aquisição» do Eusébio, com as peripécias que se conhecem e até envergonharam o futebol português (o que quási se ia repetindo, poucos anos depois, com um outro jogador africano, chamado de Carlitos, esse sim, ido para o Sporting).Simbolizando essa possibilidade (de Eusébio no FC Porto), nós próprios nos «inspiramos», tirando uma fotografia ao Eusébio «equipado à Porto» (o que é… inédito). Passou-se num jogo entre Veteranos, de homenagem ao grande Miguel Arcanjo, no princípio dos anos 80, no chamado campo de treinos do (infelizmente) extinto Estádio das Antas.Chegamos, inclusive, a enviar ao Senhor Carlos Pinhão, ilustríssimo jornalista de «A Bola» (mais adiante voltaremos a ele) que a publicou (cópia junta) e que simpaticamente nos devolveu. Como recordação, que espero aceitem, juntamos cópias dessa mesma foto para cada um de vós.
Mas, se se pode dizer «BENFICA E O REGIME», já noutro caso se pode afirmar… «SPORTING DO REGIME».Todos nós, sobretudo os cinquentões e sessentões, nos lembramos dos «cazais ribeiros», e dos «góis motas», lacaios do regime fascista, naquilo que era do mais tenebroso (um da Legião Portuguesa e outro da Pide). Lembrar-se-á o Doutor Rui Oliveira e Costa das «célebres» ameaças, e até de pistola, por estes senhores, nas cabines dos árbitros, chegando mesmo, o árbitro internacional portuense, Clemente Henriques, a «convidar» o senhor Góis Mota a sair da sua cabine, expulsando-o? Terá lido, o Doutor Rui Oliveira e Costa, o livro «O Jogo da Vida», que possuímos, escrito pelo grande CARLOS GOMES? Não? Sugerimos então que o faça (enviamos fotocópia de uma entrevista dele, no já extinto «O Jornal» de 17.02.1984). O curioso é que tal (clubes do «regime») sucedia, no caso do Sporting, nos anos 40/50, tempo dos «cinco violinos», e no do Benfica, nos anos 60/70, dos «chamados magriços».Dá que pensar, não é verdade, Doutor Rui Moreira? E, até, como diria o outro… «nem havia necessidade».
Bom, mas voltando ao… «CALABOTE»:Começamos por transcrever «trechos» de uma entrevista que o presidente da Comissão Central de Árbitros, da altura, Doutor Coelho de Fonseca, deu ao jornal «Record» de 15.03.1991, em resposta a uma outra dada pelo senhor Calabote, sobre o «caso», Doutor Coelho de Fonseca (que até era do Belenenses) .
Repare nisto:• «Tudo o que ele diz, todas essas desculpas, são boas para ele contar aos seus amigos. Ele diz que foi irradiado por ter começado o jogo dois minutos mais tarde. Ora agora pergunto eu: algum dirigente no mundo poderia irradiar um árbitro por isso? De facto, a verdadeira razão não foi essa. Haviam dois jogos: o Benfica-Cuf e o Torreense-FC Porto. O Benfica começou o seu jogo mais tarde para poder acompanhar o que se passava em Torres Vedras. Nesse dia eu estava no Restelo a assistir ao Belenenses-Sporting. Acabou o jogo e, depois, fiquei a ouvir o que se passava no Benfica-Cuf, pela rádio, ouvindo a reportagem de Artur Agostinho para a EN. E ele ia dizendo que passavam dois, quatro, seis minutos… quando o jogo acabou, passavam oito minutos da hora»
E mais isto:• «É evidente que o árbitro tem o direito de dar as compensações de tempo que entender, mas ele teria que justificar isso no relatório, e não o fez. Não indicou nem um minuto de compensação. Eu estranhei: que história é esta? Devo dizer que nunca dei importância aos boatos que circulavam na altura, acerca de suborno, porque não poderia servir-me de uma coisa que não tinha fundamento… mas o facto é que o jogo durou oito minutos a mais na segunda parte, e ele disse que durara 45 minutos! Perguntamos-lhe o que se tinha passado, mas… nada. Não houve maneira de o convencer, e ele mentiu no boletim ! Sendo assim, instaurou-se-lhe o devido processo disciplinar»
Comentários? Para quê?
Mas, repare ainda MAIS nisto, Doutor Rui Moreira:
O grande jornalista Carlos Pinhão, na sua «página», em «A Bola», de 08.09.1990, que se intitulava «Porque Hoje é Sábado», nas «Celeumas Benfica-FC Porto», dedica-se ao «CASO CALABOTE», escrevendo algures:• «Recorda-se a de 1959, quando os portistas, em Torres Vedras, tiveram de esperar largo tempo que, na Luz, chegasse ao fim um Benfica-Cuf cheio de penalties e… de minutos».E, não se fica por aqui, transcrevendo o «desabafo» do treinador (na altura) da Cuf:• «O treinador dos cufistas, Cândido Tavares (antigo guarda-redes do Benfica), no fim do jogo, ironizou:«- Árbitro??... Não houve árbitro!... Só estranho que o senhor Calabote não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade, nos últimos minutos».
Ficará, depois disto, o Senhor António Pedro de Vasconcelos, convencido? Desistirá ele do jantar consigo, Doutor Rui Moreira?
Mais:
Que dizer da «substituição», em pleno jogo, do guarda-redes da Cuf (António Gama, por José Maria), a mando de um… dirigente?
Um aparte:
Esse António Gama, benfiquista assumido, viria, nos finais dos anos 60, a treinar o Boavista, levando-o dos Distritais à 1ª Divisão Nacional (com o célebre ponta-de-lança Lemos – o dos 4 golos ao Benfica, pelo FC Porto), sucedendo-se, depois, o tal «boavistão», de Aimoré Moreira e de Pedroto. Entretanto, à margem do «caso Calabote», ainda se passariam outros… «casos».Desde o «mistério» da «aquisição» (na semana que antecedeu o polémico jogo) do treinador adjunto do Benfica (o argentino Valdivielso) para orientar o… Torreense, passando pelo «desvio» (como lhe chama Carlos Pinhão), em segredo, do treinador portista, o húngaro Guttmann, para o Benfica, na época seguinte, acabando com a conquista da «bola de prata», por Águas, em detrimento do portista Teixeira, «graças» aos… 4 golos que obteve nesse jogo com a Cuf (3 deles, de penaltie).
Aliás, em relação ao tal «desvio» (de Guttmann), além da saída do treinador, dois outros «prejuízos» sucederiam, em prejuízo futuro da equipa do FC Porto, e a recordar: A «dispensa», pelo «mago», de dois grandes jogadores:
• de Osvaldo Silva (posto na «lista das transferências»), e que rumaria ao Leixões, e, posteriormente, ao Sporting; e ainda,
• de José Augusto (esse mesmo, o bi-campeão europeu), que do Barreiro veio treinar às Antas e que o «mago» aconselharia a fazê-lo… na Luz. Isto, o Senhor António Pedro Vasconcelos, deve saber, mas, mesmo assim, enviamos o recorte de «A Bola», de 08.09.1990, com o referido artigo de Carlos Pinhão.
Antes de finalizar, não gostaríamos de deixar de pedir ao Senhor Doutor Rui Moreira, esclareça o Senhor Doutor Rui Oliveira e Costa (a quem se perdoa por, na altura, só ter 10 anos de idade – nós tínhamos 11) que o resultado do Torreense-FC Porto foi de 0-3 e não 1-3, marcando os golos, o Noé, o Perdigão e o Teixeira (e não 2 do Carlos Duarte e 1 de Teixeira, como erradamente referiu), e, já agora, o marcador do golo da Cuf foi o central Quaresma e não «o pequenino Úria».
Pedindo desculpa pela maçada, mas, compreenderá, que sempre que se fale de «Calabote» (pese embora o FC Porto, mesmo assim, tenha ganho esse campeonato), a memória portista tende, e com razão, a simbolizá-lo por décadas e décadas de prejuízo ao FC Porto em benefício de outros com a continuidade de imensos… «calabotes». E, sobretudo, quando, mesmo assim, há sempre alguém que quer ignorar… a estória (verídica e não ficcionada). Depois disto, pensamos que tem o jantar, se a realizar, perfeitamente… ganho.
Um abraço do
PS. – Tomamos a liberdade de enviar cópia desta a cada um dos seus «companheiros de painel», e aqui visados, pedindo ainda que lhes entregue os recorts de jornais citados."
Observação: esta carta foi retirada do brilhante blog Dragão até à morte. Quero referir, que obtive a devida autorização do Dragão até à Morte, para postar esta carta no meu blog. O meu obrigado ao Tripeiro Dragão Até à Morte (Dragão Vila Pouca).

11 comentários:

Anônimo disse...

Francisco Silva
Martins dos Santos
Carlos Calheiros
Miranda Dias
Aquele paneleiro dos quinhentinhos.
Xistra
etc
etc
Afinal você é um velhote! passam a ponte e zás, lá vem o provincianismo ao de cima. Não vale a pena, nasceram assim e assim continuarão!

Anônimo disse...

Os teus traumas de infância, é teres sido enrabado forte e feio pelos benfiquistas.

Ninguem para o Benfica!

Anônimo disse...

O Proença ganhou o jogo contra a Académica! Mais um jogo em que o benfica foi levado ao colo. É o novo Calabote lol.

Abraço

dragao vila pouca disse...

Meu caro amigo, estás à vontade e depois, basta ver as reacções que o post tem provocado para podermos concluir: objectivos atingidos!
Um abraço

Anônimo disse...

Como é que nomeiam o Proença para arbitrar jogos do benfica? É adepto assumido do Benfica e é nomeado para jogos dos benfica. O apito dourado é só para os dirigentes do Porto e clubes do Porto? E os do sul não entram porquê?

Grande abraço

Anônimo disse...

Ó palermoide
O Martins dos Santos é adepto de que sociedade criminosa?

Ladrao de Jeropiga disse...

Al-Khalif Abudhal Peidhal 5 Bufhas trombhaly Quinzito Frangalhotes ... .

Anônimo disse...

tripeiro

Achas que o calabote, merecia um texto tão grande?
Devias era escrever sobre a goleada do Olimpiakos.
5 - 1

Anônimo disse...

O meu nome é Silvino Martins e deixei de ter o controlo no meu blog. Vou cortar os pulsos e render-me ao GLORIOSO SPORT LISBOA E BENFICA!!!

Anônimo disse...

CASO-INOCÊNCIO CALABOTE OU UMA MENTIRA MUITAS VEZES REPETIDA…

Onde se recorda a célebre arbitragem do Benfica-Cuf (7-1) da última jornada do campeonato de 1958/59 (ganho pelo FC Porto), jogo que, diz-se agora, o árbitro terá prolongado por dez minutos, à espera de um golo que daria o título ao Benfica. Nem o Benfica ganhou esse campeonato, nem o jogo demorou tanto: o árbitro deu não mais de três a quatro minutos de descontos, plenamente justificados pelas constantes perdas de tempo dos jogadores adversários. Basta reler os jornais da época…

Desde os anos oitenta, quando se acentuou o domínio do FC Porto sobre a arbitragem nacional, culminado, duas décadas depois, com a tardia “Operação Apito Dourado”, passou a ouvir falar-se muito no antigo árbitro Inocêncio Calabote e nos favores que teria feito ao Benfica num célebre jogo com a Cuf na última jornada do Campeonato Nacional de 1958/59 (22 de Março), terminado com o resultado de 7-1 e que teria tido, no dizer de quantos o recordam agora, dez minutos a mais, dados pelo árbitro à espera que o Benfica marcasse mais um golo que lhe daria o título. Nada mais falso.

Quando se chegou à 26ª e última jornada deste campeonato, marcado por inúmeros casos (ver texto à parte), FC Porto e Benfica estavam igualados em pontos e na primeira fórmula de desempate, já que haviam empatado os dois jogos entre ambos. O FC Porto tinha então uma vantagem de quatro golos na diferença total entre tentos marcados e sofridos, pelo que tudo se iria decidir na última jornada, nos jogos Torreense-FC Porto e Benfica-Cuf. Apesar de uma e outra destas equipas estarem em perigo de descer de divisão (o Torreense desceu mesmo e a Cuf acabou por ter que disputar o então chamado Torneio de Competência com os melhores classificados da II Divisão), é muito natural que tanto os jogadores da Cuf como os do Torreense tenham tido prémios especiais (e secretos) para dificultarem a vida aos dois candidatos ao título.

Anônimo disse...

O que disseram os jornais

Folheando os três jornais desportivos da época, nada faria supor que, várias décadas depois, o jogo fosse tão falado. Vejamos o que então se escreveu sobre o tempo de desconto, não sem que, antes, se recorde que, na altura, a missão dos árbitros era bem mais difícil, pois não havia cartões amarelos, o guarda-redes podia passear com a bola na grande área, batendo-a no chão as vezes que entendesse e a demora nos lançamentos da linha lateral não era castigada com lançamento a favor da equipa adversária.

Mas vejamos o que disseram os jornais. Alfredo Farinha, em “A Bola”, foi bem claro: «O recurso sistemático aos pontapés para fora do rectângulo, a demora ostensiva na marcação dos livres e lançamentos de bola lateral, as simulações de lesionamentos, o uso e abuso, enfim, de todos esses vulgarizados meios de “queimar tempo” (…) dificilmente encontram, no caso de ontem, outra justificação se não esta: a Cuf não jogou, exclusivamente, para si mas também para uma outra equipa (a do FC Porto) que estava à margem da luta travada na Luz.» Mais adiante, na apreciação ao trabalho do árbitro, acrescenta Alfredo Farinha: «No que se
refere ao prolongamento de quatro minutos, cremos ter deixado, ao longo da crónica, justificação bastante para o critério do sr. Inocêncio Calabote.»

No “Mundo Desportivo”, Guilhermino Rodrigues não comungava da mesma opinião, mas até considerou menor o tempo de desconto e acabou por o justificar: «Exagerado o período de três minutos que concedeu além do tempo regulamentar para contrabalançar os momentos gastos em propositada demora pelos cufistas.»

No “Record”, em crónica não assinada (um antigo hábito do jornal), uma outra opinião: «Deu quatro minutos (…) pela demora propositada dos jogadores da Cuf – alguns deles foram advertidos – na reposição da bola em jogo. Não compreendemos porque não usou do mesmo critério no final do primeiro tempo, dado que aquelas demoras se começaram a registar desde início.»

Esclarecedor…